quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Trecho de Cinco Minutos - José de Alencar
"(...) Esperar tranqüilamente um dia para dizer-lhe que eu a amava e queria amá-la com todo o culto e admiração que me inspirava a sua nobre abnegação, me parecia quase uma infâmia.
Seria dizer-lhe que tinha refletido friamente, que tinha pesado todos os prós e os contras do passo que ia dar, que havia calculado como um egoísta a felicidade que ela me oferecia.
Não só a minha alma se revoltava contra esta idéia; mas parecia-me que ela, com a sua extrema delicadeza de sentimento, embora não se queixasse, sentiria ver-se o objeto de um cálculo e o alvo de um projeto de futuro.
A minha viagem foi uma corrida louca, desvairada, delirante. Novo Mazzeppa, passava por entre a cerração da manhã, que cobria os píncaros da serrania, como uma sombra que fugia rápida e veloz.
Dir-se-ia que alguma rocha colocada em um dos cabeços da montanha tinha-se desprendido de seu alvéolo secular e, precipitando-se com todo o peso, rolava surdamente pelas encostas.
O galopar do meu cavalo formava um único som, que ia reboando pelas grutas e cavernas e confundia-se com o rumor das torrentes.
As árvores, cercadas de névoa, fugiam diante de mim como fantasmas; o chão desaparecia sob os pés do animal; às vezes parecia-me que a terra ia faltar-me e que o cavalo e cavaleiro rolavam por algum desses abismos imensos e profundos, que devem ter servido de túmulos tirânicos.
Mas, de repente, entre uma aberta de nevoeiro, eu via a linha azulada do mar e fechava os olhos e atirava-me sobre o meu cavalo, gritando-lhe ao ouvido a palavra de Byron: - Away!* (*Adiante!)
Ele parecia entender-me e precipitava essa corrida desesperada; não galopava, voava; seus pés, como impelidos por quatro molas de aço, nem tocavam a terra.
Assim, minha prima, devorando o espaço e a distância, foi ele, o nobre animal, abater-se a alguns passos apenas da praia; a coragem e as forças só o tinham abandonado com a vida e no termo da viagem.
Em pé, ainda sobre o cadáver desse companheiro leal, via a coisa de uma milha o vapor que singrava ligeiramente para a cidade.
Aí fiquei, perto de uma hora, seguindo com os olhos essa barca que a conduzia; e quando o casco desapareceu, olhei os frocos de fumaça do vapor, que se enovelaram no ar e que o vento desfazia a pouco e pouco.
Por fim, quando tudo desapareceu e que nada me falava dela, olhei ainda o mar por onde havia passado e o horizonte que a ocultava aos meus olhos (...)"
6 comentários:
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Bjs,
Rafaela
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Oi, Rafaela!!!
ResponderExcluirEsse é um dos meus livros preferidos, daqueles que não troco, nem vendo.
Sempre estou relendo. A história é linda demais e a parte que vc destacou é perfeita.
Bjim!
Eita livro bom!
ResponderExcluirOi rafaela !
ResponderExcluirvocê ajudou a fazer um trabalho com esse trecho do livro..
Valeu ;)
ludi e vini
me ajudou num trabalho mt obrigada!
ResponderExcluiroi ra vc me ajudou muito nunca li esse livro mas pelo trecho e lindo beijos
ResponderExcluirOlá, alguém sabe me informar em qual página se encontra esse trecho citado acima?
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